Nasci
sob um corpo pensado por mim antes mesmo de sequer poder pensá-lo
Tocá-lo
então, era uma proibição que antecedia, inclusive, o pensamento.
Diziam-me
as vozes:
Cubra-se!
Vista-se! Comporte-se! Feche as pernas! Abra a boca!
Sorria!
Agradeça! Peça desculpas! Não chore!
Deram-me
tantas ordens... Tornei—me ordinária.
Por
vezes, os interrompia ao passo que rompia o silêncio forçado ao qual fui
submetida.
Hoje,
faço! Abro! Enfio! Esfrego! (...) Toco! Engulo! Cuspo! Gozo – e gosto!
Não me
culpo nem os desculpo.
De
olhos arregalados, hoje, olham para o meu despudor.
É
verdade, eu sei, explodi.
Ou
talvez, só tenha gozado disso tudo.
Quebrei, pois a lei do silêncio e não mais calei-me
Pelo contrário, gemi,
gritei, enfim ejaculei-me.
Débora Paixão