terça-feira, 27 de abril de 2021

você
era preciso uma palavra
para começar este poema
poderia ser qualquer outra
mas não
tive de escolher você
aqui no meio também
este poema te viu
passar por cima de mim, 
me anulando ou
me revestindo
pouco importa
no fim,
tudo que acaba comigo
também tem a ver com
você

Débora Paixão


terça-feira, 13 de abril de 2021

meu medo é não e sim

meu medo não é ficar presa por mais um ano em casa
comigo e com os móveis no mesmo lugar
meu medo é sair de casa e constatar
que o mundo está como está
meu medo maior é ficar presa à esta história
que compartilho com pessoas que parecem viver
numa realidade que não contempla sequer as minhas dores
quem dirá as do mundo
então, encaro um medo que sempre tive
mas que ao olhar a vida ficou tão pequeno que pensei não existir
salto 
no
abismo
infinito
de
quem
sou
sentindo o desespero de não encontrar uma mão para dar a minha
ou de encontrar mais um olhar que não me vê
planar sobre a agonia de um passeio sem fim
e cair
calma!
(lembrar também de respirar enquanto caio em mim)
meu medo não é alcançar o chão
meu medo é cair no chão desde mundo
e depois de tudo
da queda
da quebra da casca
da armadura
da estrutura óssea
eu ainda ser sustentada pela mesma matéria
indissolúvel, indestrutível
que não me deixa ser indiferente ao mundo
e novamente sentir
medo
ao ver que este mundo ainda é o mesmo

- Débora Paixão