segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Vou te dizer a verdade ...

"Quem disse que para escrever
Precisa-se de sentimento?
Bastar ter uma idéia
E desenvolver seu pensamento.
O poeta na maioria das vezes
Nem sente o que está dizendo
E todo mundo que lê pensa
Que o coitado está sofrendo.
Caiam na realidade.
Poetas são de verdade!
São feitos de carne e osso,
Muitas vezes até carne de pescoço.
Não há nada de errado com eles
Apenas possuem o talento
De fazer as pessoas sentirem
O que nem eles sentem por dentro.
A prova que isso é verdade
É um poema nunca estar pronto
Sempre terá o que melhorar,
As vezes depois de anos
É que o poeta vai notar.
Neste momento mudam-se rimas,
Muda-se tudo de lugar
E todas aquelas coisas belas
(Toda aquela baboseira)
Perdem o efeito e tornam mudar.
Quem foi que disse que poema
Para ser bonito tem que rimar?
Quando a rima quer aparecer
Ela simplesmente aparece.
Se ela não quiser, esquece!
Tudo que é lido aqui
Não tem sentido nenhum
E o pior é que depois de lido,
Você sente que foi acolhido,
Ou que um peso lhe foi tirado,
Tudo por conta da rima,
Ou daquilo que não foi sentido
Daquilo que foi forjado.
Isso é tudo culpa da rima!
Ou de qualquer forma poética.
Não quer dizer que funcione
Também não quero parecer cética.
Mas eu, sou parte poeta
Escrevo sem rumo nem meta
E sei do que estou falando.
Você que aí está lendo
Sei bem que está pensando
E agora está entendendo
Como se tivesse sido enganado
Todo esse tempo por tantos.
A culpa não é do poeta
E também não é do leitor.
A culpa é da própria palavra
Que toma forma do que se quer;
De própria culpa ou de desculpa
De rancor, amor ou dor
De desejo, receio ou medo
De tudo aquilo que você não diz
E acaba guardando em segredo"

Débora Paixão

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

haicais

" falando com a parede
o silêncio
me abriu uma porta "

" pare de ser
e veja tudo
se parecer "
" o silêncio deixa marcas de dor na minha garganta "
Débora Paixão

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CHAMA




" o fim inexiste magicamente
o que existe
é a magia do para sempre
na chama da paixão
que arde
e flameja dentro da gente "
Débora Paixão

Pedra Alada

Mudo o fato a todo instante
Composta por dúvidas certas
Sou mero ser inconstante
Despercebida passo
Inconspícua(mente)
Desfazendo o caminho
Por onde estive contente
Se por aquele lado andei
E se ali sorri, parada
Do outro lado passei
Diante uma pedra calada
Lançada com força a pedra
Sigo o vôo livremente
Ela que quis ser estátua
Fugiu bantendo asas,
Delicadamente...

Débora Paixão

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Experiência ao acaso

- Olá, disse eu a um cara completamente estranho.
(Silêncio)
- Oi, insisti.
- Oi
(Oba! - pensei)
- Tudo bem?
- Tranquilo
(Acho que não é de conversa)
- Tranquilo...hm, pelo menos para você, tranquilo deve ser bom.
Neste momento o sujeito olhou para mim como se eu levasse a sério uma coisa tão leviana.
- Disse apenas tranquilo, o que há de mal nisso?
- Bom, acho que você disse o que devia dizer mesmo, e se há algum mal nisso você deveria saber o local exato onde ele se encontra, senão diria que você ao menos deveria se conhecer melhor, não acha?
- Ora essa, porque toma meu tempo com essas questões que não chegarão a lugar nenhum? Nem sequer a conheço.
- Ora essa digo eu, não sejas tolo. Se essas coisas não chegassem a lugar nenhum então nunca sairiam de onde estiveram. Se estavam em você, e agora estão na conversa é porque elas se locomovem. O seu estado se tornou público. Mas o senhor está tranquilo, acredito que não vá se importar com isso.
- Eu estava tranquilo há 5 minutos atrás enquanto pensava SOZINHO na minha vida, até que uma pessoa veio me atormentar com suas indagações.
- Há algum mal nisso?
- Sim, há mal nisso sim - disse ele, com certa falta de paciência.
- Poderia me dizer onde ele está então?
- Está em você, ora bolas.
- Em mim? Era só o que me faltava...
- Sim, em você que não permite que as pessoas tenham sequer um momento de paz em suas vidas. Sabe pelo que tenho passado? Sabe quantas horas do meu dia eu posso me permirtir gastar em devaneios e reflexões?
- Não, não sei. Não o conheço.
- Pois bem, e nem deveria.
- Mas se eu quisesse, não poderia?
- Não.
- Então o senhor acaba de fechar a janela que iluminava a escuridão do seu quarto. Talvez agora você não ache o interruptor.
- Porque fala desse jeito? Não sabe ser direta? O que quer dizer com essa coisa toda?
- Não quero dizer nada além do que eu disse.
- Então me deixe em paz. Vá embora.
- O senhor só é capaz de encontrar a paz sozinho? Tem medo de interagir e buscar a paz em outras coisas?
- Eu não tenho medo de nada. Exceto da morte, talvez ... de qualquer forma isso não lhe interessa.
- Fico impressionada como o senhor é capaz de conhecer as pessoas intimamente de forma tão rápida.
- Como assim?
- Em aproximadamente 20 minutos de conversa, o senhor já sabe dizer por quais assuntos me interesso. Algumas pessoas levam anos para saber o verdadeiro gosto das pessoas.
- Ah saco, pare de me amolar, eu disse isso por dizer.
- Talvez o erro das pessoas esteja em dizer as coisas apenas por dizer, perdendo a oportunidade de dizer aquilo que devem dizer.
- Lá vem você me amolar de novo com essas questões que ficam no ar.
- Durante todo este tempo o senhor se preocupou em dizer que estou lhe atazanando, mas veja bem, se quisesse poderia refletir sobre isso tudo, SE quisesse. Afinal, quantas horas do seu dia mesmo você se permite refletir?
- Bem, não muito tempo.
- Talvez o tempo tenha passado. Ele não para de correr.
- Nem a vida.
- E uma hora a morte chega
- Não me fale em morte, diacho
- Ninguém precisa falar, ela sempre chega em silêncio e á a última a dar a palavra.
- Esse não é o tipo de assunto que me interessa.
- Poderíamos mudar se eu já não estivesse tão cansada.
- Você vem aqui amolar minha paciencia, cutucar os meus miolos e quem se cansa é você?
- Pois é, quando começamos a conversa, o senhor estava tranquilo, já eu vim para cá um tanto quanto exausta.
- Então não seria melhor ir para casa e dormir ao invés de conversar com estranhos na rua?
- Veja bem, acho que o senhor me vê como amiga. Até me dá conselhos ...
- Ora essa menina, não seja atrevida.
- Agora fala como alguém da família. É engraçado ver como as coisas acontecem. Nós simplesmente jogamos as coisas no ar, mas uma hora elas caem. E atingem onde devem atingir afinal. No coração, na mente, ou na palma da nossa mão.
- Na palma da mão me pareceu algo superficial.
- Veja, quando temos algo nas nossas mãos sabemos o que fazer com ele. Logo tratamos de lhe arrumar uma utilidade. E é mais fácil de entregar a alguém.
- Parece que começa a fazer sentido, prossiga...
- Se eu tenho uma porção de algo qualquer no meu coração ou na minha mente e externalizo isso de alguma forma o coloco em minhas mãos para agir. É um ato um tanto simbólico, mas é assim que funciona. E se eu quiser passar para alguém, não coloco na mão... Jogo no ar!
- Como se fossem confetes?
- Isso!
- Sempre gostei de confetes.
- Este então é o meu presente para você. Agora eu preciso ir.
- Mas já? Vamos tomar uma água de côco, o dia está tão quente
- Sinto muito, mas a minha hora chegou.
- E para onde vai?
- Não muito longe, só tenho pernas.
- Ainda bem que tem duas. (risos)
- Graças a Deus!
- Até mais ver minha cara. A propósito qual o seu nome?
- O nome não diz nada sobre mim, isso é indiferente.
- Vamos nos ver de novo?
- Acho que não será necessário.
Agora, o homem que já estava em pé, como se estivesse pronto para me seguir, de repente parou.
Eu olhei para trás e com aproximadamente 10 metros de distância, lancei uma chuva de dúvidas no ar. Ele sentiu e sorriu.
- O que é que joga em mim?
- Apenas algumas dúvidas.
- Menina, para que isso?
- Para gastar melhor o seu tempo, afinal ele não pára.
- Obrigado.
E fechando as mãos, o homem fez um gesto que eu não esperava.. Lançou algo sobre mim.
- Eu também ganhei presente? perguntei.
- Sim.
- E o que é?
- Descubra ...

Ambos sorriram e caminharam em direções opostas, num caminho que vai dar em "só Deus sabe onde", mas a questão é que os conceitos de oposto, contrário, junto, igual... são sempre muito relativos.

Débora Paixão

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que eu quero é o que eu preciso


Quero a sensação de que as pessoas não vivem em busca de um bem-estar próprio, sentir que são altruístas e se importam com o coletivo.
Quero simplesmente acordar e ver que a natureza, sim, tudo que é naturalmente divino, sem intervenção do homem, permanece intacto.
Quero pensar que a educação funciona, que a política funciona, que todo esse sistema falho funciona, e que os problemas derivam apenas da nossa essência e não do mundo externo, não de tudo que nos cerca.
Quero que um dia, (por que não hoje?) nossas angústias sejam levadas a sério e que as pessoas não levem a vida tão superficialmente.
Quero que todos os rótulos sejam jogados no lixo, junto com todo preconceito e discriminação.
Quero viver a vida como dois velhinhos andando de mãos dadas na rua, como se a vida tivesse valido a pena e ainda há de valer...

Talvez o mundo esteja mesmo perdido. Ou perdidos estaríamos nós em um mundo que não nos pertence?

Débora Paixão