sábado, 29 de junho de 2013

Moça do Chapéu


Olhava as coisas a sua volta
Olhava e via tanta vida
Que não dava conta de ver
E cansada se escondia
A moça do chapéu com lenço
Ainda não tinha chapéu
E o Sol às vezes lhe ardia
Às vezes tanto lhe encantava
Que ela cansada, parava
E a admirar até suspirava
Logo depois se escondia
A moça andava e falava
Contava, cantava, rezava
Mas não olhava para dentro
E lá também não tocava
Era lá que ela se escondia
Um dia ganhou um chapéu
E pode sair sob o Sol
Pode ver coisas no céu
E aquilo não mais doía
A moça amarrou um lenço
Pois assim se coloria
E pode sair de casa
E pode sair de dentro
E desprender-se como as folhas
Que voam com o sopro do vento...

(dedicado em agradecimento à J. com carinho)

Débora Paixão

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A cura

Ele me arranca facilmente sorrisos distraídos, mas alguma coisa não confere. E quando sinto a imensidão que se abre entre os nossos corpos, mesmo quando colados, viajo para o alto onde posso nos ver de cima e constatar que não é apenas estético, apesar de sermos tão maravilhosamente bonitos. É verdade que sua voz e seus agrados me fazem bem como há muito eu não encontrava, mas não preenche. É um bem que me vem e passa. Corrosivamente. E esse bem que me toma, no final das contas, não tem me enchido nada além do saco.

- Débora Paixão.