quinta-feira, 31 de outubro de 2019
31 de Outubro
segunda-feira, 30 de setembro de 2019
A pureza crua de Carina
Ela não tinha mais aquela
roupagem pesada como quem serve de cabideiro para segurar provisoriamente
roupas que já não servem mais aos donos e - por este motivo - acabavam
abandonadas. Não que ela tenha mudado, ou se transformado, mas era como se
tivesse enfim rompido certa casca, um invólucro que paradoxalmente não lhe
protegia do mundo (tal como as larvas) protegia-lhe, sobretudo dos perigos de
sua própria insegurança.
De casca rompida, estava tão pura
- que de longe mesmo quem não a conhecesse notaria novidade pelo viço de sua
nova pele. Essa camada externa reveladora de marcas que as pessoas diariamente
se põem a tentar - em vão - esconder. Pronto! Cheguei ao ponto crucial da
história que queria contar aqui. Apresentei-lhes ela: Carina. Com C. E com
licença poética, já lhes explico antes que venham os questionamentos pela nova
grafia de seu nome, simplesmente porque - embora eu saiba que pagarei alto
preço de escolher ousar na grafia do nome de uma pessoa cujo sol brilha em
virgem - enfim, esta forma me parece mais pura.
Quero antes de prosseguir,
explicar também que esta pureza não se aplica ao sentido pueril, angelical,
casto de vestido branco entrando enganada na igreja, mas a pureza do estado
natural mais puro do ser que alcança a si, instintivo, animal e selvagem que já
não se pode negar.
Carina estava para esta pureza
tanto quanto o mar está para água, ou para plástico. Estava tão para fora
quanto era dentro.
Vibrava em seus olhos, a calma de quem sabe que a fruta leva
seu tempo para amadurecer. E não sendo possível alcançá-la nem com braços nem
com vara, espera que ela se desprenda por si própria. O olhar conclusivo de
quem por fim entende que a vida é isso. Às vezes mais, às vezes menos, mas
geralmente a exata dose disso.
No entanto, ela parecia não saber
da sabedoria que lhe exalavam os poros e pode ser que seja fruto da magia
intrauterina que lhe acomete. O útero essa caixa mágica cuja vida brota
ramificada de novos seres. Nunca é só uma vida brotando ali.
Agora sim! Quero falar sobre o
encontro entre ela e eu. Duas amigas que já de tantos encontros tiveram este:
mais um. Embora sempre, os mesmos nunca. Embora nunca os outros sempre.
Tínhamos a ideia de estar, apenas. Permanecer e sermos. E fomos.
Eu não tenho essa sabedoria que
Carina carrega agora, para todas as coisas, mas tinha para algumas. Eu tinha
essa sabedoria para ela e isso foi proporcionalmente novo e corriqueiro. Eu já
conhecia tudo isso, mas não tinha visto assim, exposto dessa forma. Não tinha
visto Karina saber ver isto como eu via. E vi.
Não parecia cansada, embora o
ventre crescido pesasse para frente e pudesse lhe doer as costas. Levanto a
hipótese de que talvez agora este peso extra viesse equilibrar o peso dos
ombros. As roupas, bem como a vida, nunca pareceram tão justas.
Meus olhos de reparar sutilezas,
notaram com suavidade, essa amiga que a vida me trouxe e que de um jeito torto
- mas que ela entende - eu amo e acredito saber cuidar. Meus olhos de reparar
sutilezas estavam ali fitando Carina enquanto falava, como quem pára para
apreciar uma flor e de repente, tem a sorte de presenciar o breve e mágico
instante, do desprender de uma pétala. Foi assim que eu vi a pureza de Carina
enquanto tomava um sorvete na praça de alimentação do shopping.
Olhando à nossa volta, tínhamos
um bom cenário, alguns figurantes que cumpriam rigorosamente seus papéis. E
nenhum deles poderia sequer imaginar a trama que o destino teceria para nos
trazer até aqui. Na verdade, nem a gente
poderia. O fato é que ele trouxe e eu parei para reparar.
sábado, 22 de junho de 2019
Eu tenho em mim um amor dos grandes
Mas é mal compreendido
Nem por isso ele murcha
Nem por isso o amor desanda
Meu amor é grande e imenso
E ele marcha pelas ruas
Não fica guardado a sete chaves
Ele é assim, meio arreganhado
Qualquer um pode ver
Muito embora poucos o entendam, coitado!
Mas por ser grande assim nem liga
Elogia desconhecido
Abraça sem intimidade nas vezes em que não se cabe
Ri aparentemente sozinho porque ele sabe
Que as coisas belas (mesmo as tristes)
Guardam sempre outro sorriso
Uns pra já, outros pra depois
Na verdade ele é grande porque foi se acumulando de outros
E segue se reconhecendo
O meu amor é tão grande que é pra sempre
Quando doeu, curou
Quando chorou, libertou
O meu amor é tão grande que o único jeito de ele ser é livre
E ele é de uma liberdade tão grande e de uma grandeza tão libertadora
Que já não pode ser meu
Nem seu
Só lhe cabe ser de si mesmo.
(Débora Paixão)
quinta-feira, 9 de maio de 2019
velas
o fim ou o começo
com o vento se paga
o mesmo vento
que uma vela ajuda,
outra vela apaga"
- Débora Paixão