sexta-feira, 28 de setembro de 2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

conto de nada


sou aquela 
que entra muda 
e sai calada
que muda 
sem ter feito nada
numa vida salada
que crua se come 
sem ser mastigada
que senta na sala 
a sonhar acordada
vivendo um lindo 
conto de almo-fada

- Débora Paixão

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Carta não enviada


Eu estive pensando por dias, pensando e lembrando tudo que vivemos e tudo que deixamos de viver, principalmente. E senti uma vontade, louca, de te encontrar.
Não seria reencontro. Nós certamente já mudamos tanto, e depois de tantos pensamentos, eu, definitivamente, não quero ser a mesma.
Pensei em tudo, fiz um filme na minha cabeça.
Quando eu te ligasse, você atenderia surpreso e diria: "estive esperando todos estes dias por uma ligação sua", ou então diria: "Quem?" e eu desligaria, decepcionada, agonizaria de remorso. Talvez ainda tenha o meu número na sua agenda e sequer atenderia. Acho que foi por isso que eu não liguei. E as mensagens você ainda insiste em não responder.
Será por que eu realmente estraguei tudo? Não posso pegar a culpa toda pra mim, você nunca foi capaz de entender o amor que te oferecia e a inocência das minhas perguntas. Você nunca perdeu o hábito de me interpretar de maneiras absurdas e eu nunca perdi o hábito de insistir em você.
Tentei e consegui inúmeras formas de tirar você de vez da minha vida. Mas a questão é que esse vazio, vez ou outra, faz doer uma dor que só encontra remédio ao ouvir seu sotaque delicioso.
Eu já não sei mais se o número do seu telefone é aquele. Vai ver você não quis que eu te ligasse e mudou de número. Mas vai ver esse pensamento é, de minha parte, demasiadamente pretencioso.
Se eu soubesse ao certo onde você mora, eu iria ao seu encontro. Mas antes te espionava. Para ter certeza de que posso me aproximar sem o risco de nos quebrar em pedaços novamente.
Talvez te observasse por semanas, até ter coragem de encarar o que restou do que sentia por mim, porque eu sei que sentia muitas coisas, e dentre elas, receio que as piores foram as que restaram. 
Eu sei que você ainda pensa em mim de vez em quando. E sei que por mais que a gente se machuque com a nossa capacidade admirável de sempre fazer tudo errado, não tem jeito, a gente sempre terá vontade um do outro. 
Tem sido muita incompletude. Temos coisas a acertar e muitas outras para continuar errando.
Posso te amar quando for fase de acertos, e odiar, nos tempos de erros. Porque como diria aquele poeta, sabe? O nosso? O amor é uma matéria prima, que a vida se encarrega de transformar em raiva ou em rima. A todo o momento coisas se transformam, além de nós, nossos caminhos. Nosso destino? Seja o que vier, eu assino.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

do peso que tem as flores


diga-me quanto lhe cabe de amor no peito
e quanto lhe pesa a leveza do meu amor
que te entrego amiúde, de grão em grão
como quem brinca com as pétalas de uma flor
bem-me-quer-mal-me-quer ao contrário
esperando que a flor se complete
de bem e mal na mesma proporção
pois o que finda é resultado
de um momento que interrompe
o próximo se ou não!


(Débora Paixão)