terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sem tempo

O tempo escreve nosso destino usando caneta, não lápis. Se lápis fosse, apagaria metade. O corretivo não dá conta dos erros e erro maior é tentar corrigir as falhas que o tempo comete. Eu sigo apenas vivendo, um dia de cada vez. Um e o outro, o outro e o um. Não vejo erro algum no que faço agora, mas sempre que olho para trás vejo rasuras sobre o passado. Esperto esse tempo, pois não? Percebe os erros nas linhas, nas letras e nos parágrafos e cobre com riscos e rabiscos, tudo que escreveu às pressas, na falta dele mesmo talvez.
Débora Paixão

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Frigidez Poética

"Quando escrevo
só espero enganar a mim,
mas vocês que lêem
tomam a frente
e vão tomando como verdade
as coisas que acreditam que sinto,
mas eu não sinto nada.
Tenho uma alma vazia,
pois nada em mim permanece,
tudo que chega voa pelos ares,
tudo fica disperso,
sentimentos reversos
pensamentos expressos, apenas.
Tudo que já escrevi
passou um dia por aqui,
mas dentro da minha cabeça.
As coisas que passam no coração
não cabe a mim explicar...
nem posso.
E eu não culpo ninguém por isso.
É uma condição.
Quando a gente lê se identifica,
acredita piamente naquilo.
Eu sempre caio nessas armadilhas,
até mesmo nas que eu mesma faço.
Não acredito em nada enquanto escrevo,
afinal não estou sentindo nada.
Apenas estou tomada pelas palavras...
(Como são poderosas!)
E ainda assim mantenho minha postura,
cética, enquanto estou escrevendo,
mas quando leio...
Ah, nessa hora,
eu começo a entrar em dúvida..."

Débora Paixão

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

...

É triste sentir-se sozinho na multidão.
Encontrar-se cercado de estranhos
Que andam por caminhos vários
Todos sem rumo, sem direção.
E você lá, bem lá no meio deles
Andando a esmo, sem se importar
Com quem, com tempo, com lugar...
Sem ter com o que se preocupar,
Nem alguém que se preocupe
Se você está bem, se está doente...
Não há razão que se desculpe.
Sabe aquela solidão sentida diariamente,
Que cava lá no fundo, dentro da gente,
Criando um abismo tão profundo,
Que chega ao lado de fora dolorosamente,
Deixando-nos a sós com tudo que sobra,
Com todas aquelas coisas que nos resta?
Revela a busca pelo amor que não se aflora
Por viver um aniversário sem festa.
Ausente da presença de alguém que possa
Te libertar de tudo aquilo que o aprisiona...
De tudo aquilo que sempre vem à tona.
O medo, a vaidade, as velhas mágoas,
O orgulho, a saudade, os seus princípios...
Tudo aquilo que pela alma deságua
E contribui para o nosso isolamento
Das pessoas, do mundo, das cores
De tudo, e sobretudo, de nós mesmos.

Débora Paixão

sábado, 12 de dezembro de 2009

"Sobre o tempo" em 40 linhas ...



01. hoje o tempo está indeciso.
02. as nuvens passam tão rápido pelo céu...
03. ... que a luz que entra pela janela do meu quarto
04. parece coisa de discoteca
05. uma hora o vento entra com tudo
06. balançando a cortina
07. tirando as roupas do varal
08. e logo no minuto seguinte tudo está tranquilo
09. e o calor começa a incomodar demais
10. já até choveu por aqui hoje
11. e agora o sol está brilhando
12. vai entender esse tempo maluco
13. dizem que paulista gostar de falar do tempo
14. eu sou paulista
15. e estou falando do tempo
16. me enquadro então no modelo geral paulistano?
17. ui, que medo
18. agora está tudo escuro
19. e entrou um vento gelado demais no meu quarto
20. tem carros passando na rua
21. pessoas tirando um cochilo no sofá de casa
22. crianças andando de bicicleta
23. donas de casa fazendo doces, ou faxina
24. e nem parecem perceber as mudanças que estão acontecendo
25. talvez eu esteja só desocupada
26. e por isso dê importância a coisas que ninguém dá
27. mas como julgar a importância que as coisas tem para as pessoas?
28. é tudo relativo
29. agora o sol está brilhando de novo
30. e o tempo está tão abafado que sinto falta de ar
31. pelo menos o vento sossegou
32. o sol que as vezes aparece
33. secou todas as pistas no chão de que havia chovido
34. olha a nuvem de novo
35. mas pq eu me importo tanto com isso?
36. acho que é pq parece que meu coração tá mudando junto
37. é estranho, bem estranho
38. mas ao mesmo tempo esclarecedor
39. consigo ver tudo que acontece aqui dentro
40. passando do lado de fora ...

Débora Paixão

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sobre "Caixa de Fósforos"


Dentro da caixa de fósforos,
Há um palito impaciente
Que não consegue dormir,
Pensando receosamente,
Na forma em que deseja partir.
Ideias revolucionárias,
De quem não pode fugir do destino,
Tomam conta do seu pensamento,
E com pesar ele fica contando
Inúmeras mortes ao mesmo tempo.
Se é para morrer mesmo,
Se já não há mais o que fazer,
Que seja ao menos uma morte digna
De causa que valha a pena morrer.
Morrer por morrer não compensa.
Que eu morra para ser lembrado!
Por aquele que dorme e sonha
Ou por quem fica sonhando acordado.
A suplica é que não haja vento
Para anteceder o ritual da morte.
Senão de que valeria isso tudo?
Cabeça quente, pé-frio, sem sorte.
Se eu morrer só pela metade
E antes de morrer eu visse
Que nem a morte pôde me salvar
Da minha própria vida vazia;
Sem luz, sem iluminar...
Desejaria morrer de novo
Só para sentir o fogo queimar.
Débora Paixão

domingo, 6 de dezembro de 2009

Um historinha melosa, cheia de frases clichês.

Naquele momento ela pensava que não poderia existir no mundo uma sensação pior que aquela e disse:

- Eu não posso perdoá-lo. (Mas no fundo ela queria sim.)

Ele sabia que tinha errado, e tentou corrigir utilizando argumentos que para ele mesmo eram desonestos demais para serem considerados válidos e ele sentia que não merecia de fato, aquele perdão, mas ainda assim tentou consertar o mal que havia feito:

- Você sabe que eu te amo e não poderia magoá-la intencionalmente. O que eu fiz foi sem pensar.
- Por favor não insista. Não vê que isso dificulta ainda mais as coisas?
- Você também gosta de mim, dá pra sentir essas coisas. Eu sei como você se sente quando eu te toco, quando eu beijo você...eu vejo como você fica quando me ouve dizer que te amo mais que qualquer coisa no mundo...
- Também não é assim, eu poderia muito bem sobreviver sem isso tudo. Eu vivia muito bem antes de te conhecer e na verdade, depois de me envolver contigo só tive dor de cabeça. Não posso ficar com alguém que faz mal para mim. Você sabe que faz ... (Na verdade, ela só estava sendo durona. Ela não queria parecer fraca. Não, ela não era. Na cabeça dela ela não podia ser.)


Agora ele estava realmente arrependido, pois percebeu que ela era tudo que ele tinha. Ele sim era fraco demais para viver sem ela. Estaria perdido no mundo. Ela o mantinha em equilíbrio. O preço a pagar por um erro, as vezes é caro demais, e mesmo assim tem vezes que insistimos em errar. Pior é que na maioria das vezes, a gente pensa sim, entretanto damos mais atenção a emoção do presente do que o valor do passado ou a estabilidade do futuro. Não dá para conviver com peso na consciência. A gente se liberta de vícios, mas a dor de um erro nos aprisiona. Só ela conseguia fazer com que ele se acalmasse quando seu único desejo era que o mundo todo explodisse, e para isso bastava apenas um simples: Amor, não fica assim, você sabe que vai passar... acompanhado de um beijinho no pescoço ou no canto da boca. Mas ele era, sobretudo fraco demais. Não podia dizer essas coisas. Era estranho pensar em si mesmo como uma criatura tão dependente. Mas não era hora de ser egoísta, embora tenha sentido uma tremenda vontade de chorar disse:

- Me perdoa, amor! Você tem razão. Eu não sou bom o bastante para você.

Foi tudo que pode dizer naquele momento. Ela sentiu uma vontade enorme de abraçá-lo, mais do que em qualquer outro momento na sua vida, mas só pode dizer:

- Eu sei, e é por isso que acabou! Ou está acabando...tente não me procurar, vai ser mais fácil para esquecê-lo. Eu te amei e neste momento grande parte de mim ainda te ama, mas ela luta com uma outra parte que está sofrendo demais com isso tudo e prefere acabar logo com isso, essa outra é mais forte. (Tem que ser)

Embora ele soubesse que suas palavras poderiam receber essas respostas, não estava preparado para ouvi-las. Então ele se aproximou para beijar sua face, pela última vez e ela recuou, ainda querendo grudar selvagemente nos seus lábios, tomada por um desejo que gritava dolorosamente. Levantou e foi embora, sem dizer mais nenhuma palavra e segurou o choro.

Ele ficou sentado ali, embaixo da árvore, pois notou que não tinha força para levantar...e permaneceu ali por algumas horas sentindo o cheiro da grama molhada, iluminado por uma dúzia de estrelas no céu...



Débora Paixão

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

tempos passados passaram

não basta ajustar o relógio
para a hora que eu quiser
um botão não será capaz
independe do que eu fizer
de me fazer reviver por um dia
os tempos que se perderam
desde mil e novecentos
de janeiros a janeiros
entre as folhas de caléndário
e aqueles malditos ponteiros
Débora Paixão

Loucura sã

"Que a dúvida
Esteja certa
De que não estou
E nem quero
Querer estar
Nem perto.
A loucura compreende
Os delírios
E os desejos
Da sanidade,
Que persegue
Laços de afeto.
Como fossem contratos
Beijos e amores
Concretos.
Do sabor amargo
Da paixão,
O doce, excreto."
Débora Paixão

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Antes que doa mais

"ando meio doente
dói a vista, dói o dente
dói tudo ultimamente
coisas que doem
dentro da gente

viver assim é deprimente
quem vive, chora
quem chora, mente
evita a lágrima indecente

quanto à dor física
que desta eu me ausente
já a dor psíquica
aquela que vai na mente
que esta se esconda
permanentemente
pois a dor em si já basta
e isso fica evidente
trazê-la de volta a lembrança
seria sofrer novamente"

Débora Paixão

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Vou te dizer a verdade ...

"Quem disse que para escrever
Precisa-se de sentimento?
Bastar ter uma idéia
E desenvolver seu pensamento.
O poeta na maioria das vezes
Nem sente o que está dizendo
E todo mundo que lê pensa
Que o coitado está sofrendo.
Caiam na realidade.
Poetas são de verdade!
São feitos de carne e osso,
Muitas vezes até carne de pescoço.
Não há nada de errado com eles
Apenas possuem o talento
De fazer as pessoas sentirem
O que nem eles sentem por dentro.
A prova que isso é verdade
É um poema nunca estar pronto
Sempre terá o que melhorar,
As vezes depois de anos
É que o poeta vai notar.
Neste momento mudam-se rimas,
Muda-se tudo de lugar
E todas aquelas coisas belas
(Toda aquela baboseira)
Perdem o efeito e tornam mudar.
Quem foi que disse que poema
Para ser bonito tem que rimar?
Quando a rima quer aparecer
Ela simplesmente aparece.
Se ela não quiser, esquece!
Tudo que é lido aqui
Não tem sentido nenhum
E o pior é que depois de lido,
Você sente que foi acolhido,
Ou que um peso lhe foi tirado,
Tudo por conta da rima,
Ou daquilo que não foi sentido
Daquilo que foi forjado.
Isso é tudo culpa da rima!
Ou de qualquer forma poética.
Não quer dizer que funcione
Também não quero parecer cética.
Mas eu, sou parte poeta
Escrevo sem rumo nem meta
E sei do que estou falando.
Você que aí está lendo
Sei bem que está pensando
E agora está entendendo
Como se tivesse sido enganado
Todo esse tempo por tantos.
A culpa não é do poeta
E também não é do leitor.
A culpa é da própria palavra
Que toma forma do que se quer;
De própria culpa ou de desculpa
De rancor, amor ou dor
De desejo, receio ou medo
De tudo aquilo que você não diz
E acaba guardando em segredo"

Débora Paixão

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

haicais

" falando com a parede
o silêncio
me abriu uma porta "

" pare de ser
e veja tudo
se parecer "
" o silêncio deixa marcas de dor na minha garganta "
Débora Paixão

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CHAMA




" o fim inexiste magicamente
o que existe
é a magia do para sempre
na chama da paixão
que arde
e flameja dentro da gente "
Débora Paixão

Pedra Alada

Mudo o fato a todo instante
Composta por dúvidas certas
Sou mero ser inconstante
Despercebida passo
Inconspícua(mente)
Desfazendo o caminho
Por onde estive contente
Se por aquele lado andei
E se ali sorri, parada
Do outro lado passei
Diante uma pedra calada
Lançada com força a pedra
Sigo o vôo livremente
Ela que quis ser estátua
Fugiu bantendo asas,
Delicadamente...

Débora Paixão

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Experiência ao acaso

- Olá, disse eu a um cara completamente estranho.
(Silêncio)
- Oi, insisti.
- Oi
(Oba! - pensei)
- Tudo bem?
- Tranquilo
(Acho que não é de conversa)
- Tranquilo...hm, pelo menos para você, tranquilo deve ser bom.
Neste momento o sujeito olhou para mim como se eu levasse a sério uma coisa tão leviana.
- Disse apenas tranquilo, o que há de mal nisso?
- Bom, acho que você disse o que devia dizer mesmo, e se há algum mal nisso você deveria saber o local exato onde ele se encontra, senão diria que você ao menos deveria se conhecer melhor, não acha?
- Ora essa, porque toma meu tempo com essas questões que não chegarão a lugar nenhum? Nem sequer a conheço.
- Ora essa digo eu, não sejas tolo. Se essas coisas não chegassem a lugar nenhum então nunca sairiam de onde estiveram. Se estavam em você, e agora estão na conversa é porque elas se locomovem. O seu estado se tornou público. Mas o senhor está tranquilo, acredito que não vá se importar com isso.
- Eu estava tranquilo há 5 minutos atrás enquanto pensava SOZINHO na minha vida, até que uma pessoa veio me atormentar com suas indagações.
- Há algum mal nisso?
- Sim, há mal nisso sim - disse ele, com certa falta de paciência.
- Poderia me dizer onde ele está então?
- Está em você, ora bolas.
- Em mim? Era só o que me faltava...
- Sim, em você que não permite que as pessoas tenham sequer um momento de paz em suas vidas. Sabe pelo que tenho passado? Sabe quantas horas do meu dia eu posso me permirtir gastar em devaneios e reflexões?
- Não, não sei. Não o conheço.
- Pois bem, e nem deveria.
- Mas se eu quisesse, não poderia?
- Não.
- Então o senhor acaba de fechar a janela que iluminava a escuridão do seu quarto. Talvez agora você não ache o interruptor.
- Porque fala desse jeito? Não sabe ser direta? O que quer dizer com essa coisa toda?
- Não quero dizer nada além do que eu disse.
- Então me deixe em paz. Vá embora.
- O senhor só é capaz de encontrar a paz sozinho? Tem medo de interagir e buscar a paz em outras coisas?
- Eu não tenho medo de nada. Exceto da morte, talvez ... de qualquer forma isso não lhe interessa.
- Fico impressionada como o senhor é capaz de conhecer as pessoas intimamente de forma tão rápida.
- Como assim?
- Em aproximadamente 20 minutos de conversa, o senhor já sabe dizer por quais assuntos me interesso. Algumas pessoas levam anos para saber o verdadeiro gosto das pessoas.
- Ah saco, pare de me amolar, eu disse isso por dizer.
- Talvez o erro das pessoas esteja em dizer as coisas apenas por dizer, perdendo a oportunidade de dizer aquilo que devem dizer.
- Lá vem você me amolar de novo com essas questões que ficam no ar.
- Durante todo este tempo o senhor se preocupou em dizer que estou lhe atazanando, mas veja bem, se quisesse poderia refletir sobre isso tudo, SE quisesse. Afinal, quantas horas do seu dia mesmo você se permite refletir?
- Bem, não muito tempo.
- Talvez o tempo tenha passado. Ele não para de correr.
- Nem a vida.
- E uma hora a morte chega
- Não me fale em morte, diacho
- Ninguém precisa falar, ela sempre chega em silêncio e á a última a dar a palavra.
- Esse não é o tipo de assunto que me interessa.
- Poderíamos mudar se eu já não estivesse tão cansada.
- Você vem aqui amolar minha paciencia, cutucar os meus miolos e quem se cansa é você?
- Pois é, quando começamos a conversa, o senhor estava tranquilo, já eu vim para cá um tanto quanto exausta.
- Então não seria melhor ir para casa e dormir ao invés de conversar com estranhos na rua?
- Veja bem, acho que o senhor me vê como amiga. Até me dá conselhos ...
- Ora essa menina, não seja atrevida.
- Agora fala como alguém da família. É engraçado ver como as coisas acontecem. Nós simplesmente jogamos as coisas no ar, mas uma hora elas caem. E atingem onde devem atingir afinal. No coração, na mente, ou na palma da nossa mão.
- Na palma da mão me pareceu algo superficial.
- Veja, quando temos algo nas nossas mãos sabemos o que fazer com ele. Logo tratamos de lhe arrumar uma utilidade. E é mais fácil de entregar a alguém.
- Parece que começa a fazer sentido, prossiga...
- Se eu tenho uma porção de algo qualquer no meu coração ou na minha mente e externalizo isso de alguma forma o coloco em minhas mãos para agir. É um ato um tanto simbólico, mas é assim que funciona. E se eu quiser passar para alguém, não coloco na mão... Jogo no ar!
- Como se fossem confetes?
- Isso!
- Sempre gostei de confetes.
- Este então é o meu presente para você. Agora eu preciso ir.
- Mas já? Vamos tomar uma água de côco, o dia está tão quente
- Sinto muito, mas a minha hora chegou.
- E para onde vai?
- Não muito longe, só tenho pernas.
- Ainda bem que tem duas. (risos)
- Graças a Deus!
- Até mais ver minha cara. A propósito qual o seu nome?
- O nome não diz nada sobre mim, isso é indiferente.
- Vamos nos ver de novo?
- Acho que não será necessário.
Agora, o homem que já estava em pé, como se estivesse pronto para me seguir, de repente parou.
Eu olhei para trás e com aproximadamente 10 metros de distância, lancei uma chuva de dúvidas no ar. Ele sentiu e sorriu.
- O que é que joga em mim?
- Apenas algumas dúvidas.
- Menina, para que isso?
- Para gastar melhor o seu tempo, afinal ele não pára.
- Obrigado.
E fechando as mãos, o homem fez um gesto que eu não esperava.. Lançou algo sobre mim.
- Eu também ganhei presente? perguntei.
- Sim.
- E o que é?
- Descubra ...

Ambos sorriram e caminharam em direções opostas, num caminho que vai dar em "só Deus sabe onde", mas a questão é que os conceitos de oposto, contrário, junto, igual... são sempre muito relativos.

Débora Paixão

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que eu quero é o que eu preciso


Quero a sensação de que as pessoas não vivem em busca de um bem-estar próprio, sentir que são altruístas e se importam com o coletivo.
Quero simplesmente acordar e ver que a natureza, sim, tudo que é naturalmente divino, sem intervenção do homem, permanece intacto.
Quero pensar que a educação funciona, que a política funciona, que todo esse sistema falho funciona, e que os problemas derivam apenas da nossa essência e não do mundo externo, não de tudo que nos cerca.
Quero que um dia, (por que não hoje?) nossas angústias sejam levadas a sério e que as pessoas não levem a vida tão superficialmente.
Quero que todos os rótulos sejam jogados no lixo, junto com todo preconceito e discriminação.
Quero viver a vida como dois velhinhos andando de mãos dadas na rua, como se a vida tivesse valido a pena e ainda há de valer...

Talvez o mundo esteja mesmo perdido. Ou perdidos estaríamos nós em um mundo que não nos pertence?

Débora Paixão

sábado, 10 de outubro de 2009

Delírio (in)Consciente


Acabando com a distância você vem
Com seu passo curto e arredio
Enquanto minha sanidade se abstem
Do meu devaneio cego e doentio

Quando sorrateiramente se afasta
Meu mundo lentamente perde a cor
Num maleficio infindo que me abasta
Brancas nuvens se desfazem sem sabor

Mas se volta ao meu campo de vista
E se além de voltar, você me toca
Então todas as cores ganham vida
Arco-íris de paixão que me sufoca

Tantas asperezas resultaram em poesia
Acima meu valor, de lado sua indiferença
Nestas condições em que me sinto vazia
A piedade de mim mesma recompensa
Débora Paixão

domingo, 27 de setembro de 2009

.coração primaveril.


Uma margarida singela, cheia de vida
Resolveu florescer na seca enfim
E o frescor da estação lavou a ferida
Do gelo que queimou dentro de mim

Subitamente o sol se abriu em meu peito
E trouxe de fora o que havia de mais belo
Escondendo entre o branco e o amarelo
O encanto que havia sido desfeito

Se olhares para dentro de mim agora
Verás que a luz que irradia minh'alma
Não tem a amarga sombra de outrora

Pois esta deu lugar a magia da aurora
Que pelo ar leva a brisa que acalma
E a espalha lentamente, mundo a fora.
Débora Paixão

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pergunte a si mesmo




Com qual frequência você faz perguntas a si mesmo?

Eu sou feliz? O que me faz feliz? Qual o preço da felicidade?
Quanto valem meus princípios? O que eu posso esperar de mim? O que não posso?
O que posso esperar dos outros? O que não posso?
Será que vale a pena me arriscar? Quando virá outra oportunidade como essa?
O que eu tenho feito de bom para os outros? O que eu tenho feito por mim?
Por que seres humanos são egoístas? E por que tantas vezes eu me recuso a assumir que também sou?
O que é verdadeiramente eu? Quanto do mundo há em mim? E quanto há de mim no mundo?

Eu não tenho respostas para nenhuma dessas perguntas, a intenção é sempre essa. Mesmo que eu tentasse explicar, não conseguiria, não poderia.
Nós sempre sabemos as respostas, mas não adianta tentar expressar de qualquer forma que seja. A resposta está além de nós e nós apenas sentimos. Transcrevê-las é algo que está fora de nosso alcance, eu já perdi meu tempo tentando, mas sinceramente prefiro encontrá-lo em mim, sempre perguntando...


Débora Paixão

domingo, 13 de setembro de 2009

Se e apenas


Eu não esperava encontrar você. Não digo hoje, não digo um dia. Digo nunca.
Nunca esperei conhecer alguém que mesmo depois de ter conhecido, e falado e tocado e sentido; conseguisse me fazer acreditar que não existe. E que por mais que me desse provas de que é real, ainda assim não conseguisse me convencer. Nem por um dia. Nem por um minuto sequer.
Eu posso te ver. Posso te tocar. Posso sentir a sua vibração e o seu cheiro quando você passa por mim, mas isso ainda não é o suficiente para provar que você realmente está onde eu vejo, onde eu posso te sentir.
Como eu poderia imaginar encontrar alguém que, nem nos meus melhores e mais delirantes devaneios, se fazia tão perfeito, tão inatingível?
Se eu pudesse descrever-te em uma palavra apenas, teria que inventá-la. Não conheço uma pessoa, não conheço um romance, que tenha sido capaz de demonstrar ou descrever algo tão intenso e ao mesmo tempo tão real e tão ilusório, quanto a isso que eu sinto.
Se existisse uma definição, uma teoria, uma lei que explicasse tal sentimento, eu teria que reformulá-la para que atingisse o grau exato do que se passa aqui dentro. Se bem que eu não saberia afirmar ao certo, se o que ocorre se passa, ou permanece aqui dentro, ou se eu inspiro a cada lembrança do seu cheiro, da sua voz, do seu sorriso...
Se a razão, algum dia, já esteve do meu lado, agora eu tenho certeza que brigamos e não faremos as pazes. O que resta em mim é apenas o paradoxo entre dúvida e certeza. Dúvida de que você não é apenas uma fantasia. Certeza de que é você. Pra mim. Só você. Só pra mim.
Como eu poderia me dar o luxo (ou o prazer) de viver física ou metafisicamente ao lado de um personagem animado?
Se eu pudesse apenas, por um segundo, acreditar que você é real e se você, apenas por um milésimo de segundo, pudesse notar minha presença, aqui, agora, do seu lado... Então eu seria feliz por um segundo inteiro. Ou até mais, quem sabe? E isso me bastaria.
O que eu sei hoje é que essa coisa toda dançando solta e dispersa em minha mente (ou no ar), um dia vai concretizar.
E se você quer saber eu acho mesmo que isso tudo está no ar. Dá pra sentir. Respirar.
Inspirar mantém o ritmo dos pulmões e do coração. E dá vida. E é isso mesmo. A minha vida está no que eu respiro quando você passa, ou fala ou sorri...
Está solta em tudo que você expira. E saber que o ar sempre circula, é a prova de que isso é eterno, porque ele sempre vai voltar pra dentro de mim...
Se e apenas se... Você continuar respirando.

Débora Paixão

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Apenas um poeminha diário.


Hoje, logo de manhã,
Enviei uma carta aos anjos
Ondas sonoras a levaram
Levemente aos céus
Pedi na carta musicada
Que um querubim descesse
E como se obedecesse
Jogou um manto lá de cima
Cantando uma canção que dizia
Que ele desceria em troca
Da minha eterna subida
Minh'alma ficou em choque
Mas por fim entendeu
Qual sentido de estar na terra
Um anjo que é Deus?

(Débora Paixão)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Uma parte da história

- vc tem 21 anos né ?
- sim
- nunca namorou?
- não
- e vc gosta de uma pessoa ?
- talvez
- há tempos ?
- aiii ... pq?
- vc me intriga... me deixa louco..
- wooow (rs)
- é estranho ... estou falando sério.
- onde vc quer chegar? o que quer dizer? minha vez de ficar louca pode? (rs)
- não quero chegar a nenhum lugar ... não posso ... mas ... esse lugar existe! contudo ... não posso falar essas coisas ... me perdoa ... é forte pra mim ... tanto quanto pra vc ... não é nd tão demais assim ... mas ...

(Débora Paixão e ... )

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

olhe para os lados a fim de se encontrar

Quantas vezes nos distraímos na superficialidade do que encontramos a ponto de deixar que os detalhes passem despercebidos?

Olhe a sua volta, mergulhe dentro de si, e não encontrará nada que já não tenha encontrado. A diferença é que passará a conhecer as coisas que o cercam e o compõem e então saberá que os detalhes por trás do rótulo é que fazem a diferença.

por Débora Paixão.