sábado, 9 de abril de 2016

Nasci sob um corpo pensado por mim antes mesmo de sequer poder pensá-lo
Tocá-lo então, era uma proibição que antecedia, inclusive, o pensamento.
Diziam-me as vozes:
Cubra-se! Vista-se! Comporte-se! Feche as pernas! Abra a boca!
Sorria! Agradeça! Peça desculpas! Não chore!
Deram-me tantas ordens... Tornei—me ordinária.
Por vezes, os interrompia ao passo que rompia o silêncio forçado ao qual fui submetida.
Hoje, faço! Abro! Enfio! Esfrego! (...) Toco! Engulo! Cuspo! Gozo – e gosto!
Não me culpo nem os desculpo.
De olhos arregalados, hoje, olham para o meu despudor.
É verdade, eu sei, explodi.
Ou talvez, só tenha gozado disso tudo.
Quebrei, pois a lei do silêncio e não mais calei-me 
Pelo contrário, gemi, gritei, enfim ejaculei-me.

Débora Paixão