domingo, 25 de julho de 2010

Às vezes, esquece ...

Às vezes quero escrever
E a palavra não vem.
A ideia não desce.
O papel em branco,
Permanece.

Às vezes quero dizer
E o papel se inverte.
A palavra não sai.
Qualquer ideia simples,
Desaparece.

Às vezes queria ouvir
E a ideia escurece.
O papel registra.
A palavra não dita,
Emudece.

(Débora Paixão)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Pescador



ele pescava na beira do rio
sem nenhum ingrediente secreto
decerto, um peixe lhe sorriu

história de pescador seria
e talvez seja, pois ninguém viu
mas na mente dele permanecia
o sorriso que diluiu.

(Débora Paixão)


* Quadro "O Pescador" da Tarsila do Amaral

quarta-feira, 7 de julho de 2010

não fosse isso e era menos; não fosse tanto e era quase

Se fossemos menos, o que seríamos? Se fossemos mais, seríamos o bastante? E não fossemos?

Se somos o que fomos, o que somos e o que seremos, não passamos de uma montagem.
De partes que nos faltam, por terem quebrado e na hora da colagem não haver mais espaço. Ou como espaços que deixamos propositadamente vazios para encaixar o que esperamos que venha ao nosso encontro, mas sempre tem peças que não encaixam.
Ao que parece, somos buracos, espaços em branco, vazios. E o que fazemos quanto a nós mesmos é juntar todas as nossas partes.
Somos por fim a soma de todos os nossos cacos, nem mais nem menos.
(Débora Paixão)

* o título é obra do poeta Paulo Leminski.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Que seja

E se não restar nada
um dia
Se tudo for para ficar
distante
Que floresça em mim
alguma poesia
Que me reste sequer
um instante
Para pensar no que se foi
e se voltará
Se o meu coração
não condena
E se os versos valerem
a pena
A vida também valerá

(Débora Paixão)