sábado, 11 de fevereiro de 2012

Estopa

Guardei em mim todo o amor que você não me deu.
Guardei em mim todas as palavras que você não disse.
Guardei numa caixinha as flores e as centenas de cartas que você não me enviou.
Guardei em minha memória a cena daquele encontro que quase aconteceu naquele dia que nunca chegou.
Guardei o tom desafinado da sua voz cantando aquela música que você até disse que cantaria, mas não cantou.
Guardei em meu coração a forma apaixonada como você nunca me olhou, fantasiando um romance que nunca aconteceu fora da minha imaginação.
De seda fiz-me trapo, feito saco de estopa, para guardar todas as feridas de lembranças doces que a partir da fome não tiveram outra saída senão transformarem-se em espinhos.
Guardei para um dia quiçá mostrar-te quem poderia ter sido, onde poderia ter chegado, não fosse seu hábito de comentar como são claros os meus olhos, ao invés de olhar o que estavam por trás deles...

- Débora Paixão

(Provavelmente esse texto foi feito em 2008...rs Achei-o recentemente durante a reforma do meu quarto, no meio de uma caixa de livros)