terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Crianças Superpoderosas

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Podemos pensar em inúmeras razões para nos encantar tanto com as crianças, mas acho que o que mais encanta é que elas guardam em si coisas que perdemos. Com isso, a gente tende a querer impedir que elas percam. Noutros momentos, porém queremos que sejam como nós. Que entendam como nós. Que falem como nós. Que pensem como nós.
Mas por incrível que pareça elas podem mais que nós. Elas podem muito. São superpoderosas. E sabem por quê? Porque elas conseguem se expressar com toda energia que nós, grandes, temos que conter por inúmeros motivos. Elas se expressam com todo o corpo, com os olhos, com o choro, com a voz, não exatamente com as palavras e por isso se expressam mais. Nós tendemos a ficar, por diversas vezes, inexpressivos. As crianças não tem limite, e querem saber do que mais: nós temos inveja. Sim, temos. Mas, não nos sintamos culpados, tivemos de nos conter, de aprender a falar para diminuir a ansiedade dos adultos em não saber o que se passa conosco senão através da fala. Calma, também não podemos culpá-los, pois eles sofreram tanto como nós. Isso vem de longe. Mas isso o que? Esse sofrimento.
Então quer dizer que criança sofre? Sofre sim e como. Preocupam-se e muito. “Será que meu pai vai mesmo voltar?”, “Onde que é ali?”, o “já vai passar” aparece sempre nos momentos que mais custam a passar. Criança sofre e sofre tanto que depois que crescem não podem suportar estes sofrimentos e então esquecem. Mesmo assim conseguem ser doces. Entendem agora onde está esse poder? Está em com um sorriso, conseguirem nos desmontar, frente as nossas durezas e armaduras e ao mesmo tempo nos reconstruir com o impulso suficientemente forte para aguentar mais um dia de dureza, de stress, de cansaço.
Elas são superpoderosas, mas nos pedem que estejamos atentos, pois todo Superman tem sua Kriptonita, e a das crianças é a nossa indiferença, nossa pressa, nossa falta de tato, de contato. É o único pedido que fazem, elas podem tocar nosso coração com os pedidos mais simples “Mas é só um pouquinho”, “Só desta vez”, ou com as falas mais simples “Para você”, “To com medo!”, “Brinca comigo?”. Precisamos trocar estas experiências com elas, para que possamos também tocar em vossos corações e acolher o mundo que tentam abraçar com toda sua vontade, mas simplesmente não aguentam sozinhas. Precisamos estar juntos, sempre! Fazendo-as acreditar no poder que tem e no efeito que este poder nos causa, com o mesmo olhar, a mesma simplicidade, o mesmo encanto.
Acreditem ou não, elas acham que o poder está conosco, pois são pequenas e acham que o poder se estende com o tamanho do corpo. De qualquer forma, o que esperam é ser encantadas por nós e nós, mais do que ninguém, devemos isso a elas.

Débora Paixão

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

MANIFESTO

você estava lá
guardado com a saudade
apertado no meu peito
aqui no meio
e mais pro canto
e o meu canto 
que outrora era 
de primavera feito
partiu longinquo
semitonando
semisumindo
e você lá
me seduzindo
em toda lembrança
que vinha de caça
de casa
de vinho
de dança ...
de tudo que hoje
minha mão não alcança

você estava lá
apertado e sem defeito
guardado como pude
e o cheiro do seu perfume
permanece do mesmo jeito
que jeito de dar voz
novos timbres 
novos tons
às cores que desbotaram
por quem não mais
borra os meus batons
como cantar
e tirar dos pulmões
o ar que você me tirou
com o chão?
como sentir-me leve
se pesa o mesmo
que a consciência
o buraco no coração?

- Débora Paixão


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