domingo, 19 de maio de 2013

Dor

a dor que corta
é a que tira
que aborta
os tons
as notas
a própria poesia

a dor que tenho
não tem nome
nem cara
nem cura
nem vida

é só uma dor morta
que pesa
não pensa
mas pena
inesquecida

- Débora Paixão

domingo, 5 de maio de 2013

Pastel de lenha



Certa vez, quando eu era criança, comentei que queria comer pastel e vó é assim: não pode ouvir essas coisas. Já foi gritando: "Maria, apanha lenha para fazer pastel". Eu, no auge da minha inocência e da minha fantástica imaginação fértil, pensando: "Onde que a vó coloca madeira no pastel?". Não perguntei e esqueci de observar o que faria com aquele arsenal. Então os pastéis ficaram prontos, e enquanto eu me refastelava de tanto comer, sentia o cheiro do fogão a lenha que respondia o meu enigma. Mas decidi, ali cedinho na vida, que o enigma não estava resolvido e que os pastéis da vó eram tão bons, pois neles havia lenha...

Para vó Isaura, com todo o meu amor. ♥

- Débora Paixão (Débinha)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Para falar das coisas que aprendi

Pensei em escrever um texto das coisas que aprendi na vida, e tentei listá-las para me organizar. E foi aí que aconteceu uma coisa engraçada: todas as coisas que colocava na lista, antes mesmo de passar para a próxima, decidi que não havia aprendido tão bem assim. É isso: de todas as coisas que se pode aprender na vida, a mais dura de todas elas, é certamente reconhecer que nunca se aprende o bastante.
Nenhum assunto é absolutamente dominado pelo conhecimento de alguém. Por mais que se viva, se erre e se aprenda, nunca se erra ou se aprende o bastante, e daí vem a impressão de que uma situação, ou até mesmo uma vida inteira, não foi vivida sequer o suficiente. 
Quantas coisas na vida não foram o bastante? Muitas podem ter sido o suficiente para que entendamos como funcionam, mas nunca o suficiente para aceitarmos que não são como queremos. E queremos mais que o suficiente, pois queremos sempre bastante. E não deveria apenas nos bastar o que cabe num instante?
Tendemos sempre a levar as coisas adiante, e de repente, o corpo vai cansando mais do que se espera pela idade. 
Quanto tempo leva para amadurecermos a ideia de que as coisas, todas, tem início, meio e fim? E que enfim, o tempo de uso está no estalo que a nossa mente sempre percebe e que, na maioria das vezes, o coração é que mente fingindo não perceber e passando a bater mais forte, para que não possamos ouvir mais nada.
Mas nada além do que já não se saiba, das coisas que aprendi na vida, é que sendo ela de apenas uma pessoa não é capaz de mandar recado a terceiros e que as coisas estão para muito além das dualidades.
Toda relação dual, entre o sim e o não, o bem e o mal, o certo e o errado, é na verdade uma coisa só. E por serem todas uma (o que não quer dizer que sejam as mesmas), é que a vida é uma só. E só.

- Débora Paixão