sábado, 11 de fevereiro de 2012

Estopa

Guardei em mim todo o amor que você não me deu.
Guardei em mim todas as palavras que você não disse.
Guardei numa caixinha as flores e as centenas de cartas que você não me enviou.
Guardei em minha memória a cena daquele encontro que quase aconteceu naquele dia que nunca chegou.
Guardei o tom desafinado da sua voz cantando aquela música que você até disse que cantaria, mas não cantou.
Guardei em meu coração a forma apaixonada como você nunca me olhou, fantasiando um romance que nunca aconteceu fora da minha imaginação.
De seda fiz-me trapo, feito saco de estopa, para guardar todas as feridas de lembranças doces que a partir da fome não tiveram outra saída senão transformarem-se em espinhos.
Guardei para um dia quiçá mostrar-te quem poderia ter sido, onde poderia ter chegado, não fosse seu hábito de comentar como são claros os meus olhos, ao invés de olhar o que estavam por trás deles...

- Débora Paixão

(Provavelmente esse texto foi feito em 2008...rs Achei-o recentemente durante a reforma do meu quarto, no meio de uma caixa de livros)

10 comentários:

Ale disse...

Guardou tão bem, que encontrou agora,


Guardou tão bem, que mesmo que não tivesse achado, essas sensações seguiriam contigo, para todo o sempre,


Bjkas

Paixão disse...

Bem capaz Alê ...
Obrigada por entender! rs

Beijos

Anônimo disse...

Que lindo, Débora :)
Gostei tanto!
Gosto muito das coisas que escreve... E passeio por aqui lendo o que perdi!
Bjo :*

Unknown disse...

Umas das coisas mais lindas que vi por aqui. É tão belo [ apesar de assustador ] sofrer pelo que nunca existiu, pelo que fantasiamos e/ou até almejamos muito. É um belíssimo texto, daqueles que emocionam, e me lembrou Neruda - que é o meu poeta favorito. Parabéns, querida Débora! Continue!

Mayla Nascimento disse...

Guardei em meu coração a forma apaixonada como você nunca me olhou.

(Era pra ser...)
SAUDADE melancia.

Mateus Borba disse...

Que bom que achou, merece ser lido. Merecemos lê-lo.

Nina disse...

E que maldade a sua ter guardado por tanto tempo.. Tava com saudade daqui.. ^^

Luiza Vinhosa disse...

Lindo!
Eu também encontro textos meus perdidos entre meus papéis. Às vezes me deparo com alguns dos quais nem me lembrava mais.

Parabéns pelo blog!

Beijo

Paixão disse...

Obrigada gente! Beijos

Giovanna Marget disse...

Interessante como você diz coisas que eu sinto e gostaria de dizer...num modo tão lindo, poético de ser...também guardei em mim o amor que meu irmão me deu...e não me deu, pois tivemos pouco tempo juntos.....a vida nos separou... e quando nos reencontramos depois de tantos anos separados...ele se foi...foi guardado de mim...